
Psicologicamente Falando sobre TEA
- Mamãe, Papai, eu sei que vocês estão muito triste, não nasci como vocês esperavam,mas eu soube que têm pessoas que se unem para conversar sobre seus filhos que são iguais a mim, tem na internet, tem em consultórios, em Igrejas, procurem um lugar, vocês saberão como cuidar melhor de mim, porque assim é a vida um vai ajudando o outro e elas poderão contar suas histórias, seus acertos e seus erros.
Ah! sabe de uma coisa? Antes de ser autista, eu sou uma criança e por isso, faço coisas de criança, como querer dormir na sua cama, posso ter tido um pesadelo e não sei como te contar...xiiiii
Às vezes, fico de boca aberta, se eu não conseguir fechar, fecha ela para mim, por favor? E parece que tenho uma preguiça sem fim, quero deitar em cima da mesa, me ajeita, se eu ficar assim?
E tem outra coisa, tem coisas que acontecem comigo, que é normal acontecer em outras crianças, eu posso ter alergia, não gostar de algum alimento... nem tudo é por causa do autismo, né? Aí vira paranoia...
Eu quero muito me comunicar com vocês, mas nem sempre é fácil para mim, por isso, no primeiro momento que perceber que eu não falo direito, procure aquela tia que trata da fala. Ela vai me ajudar a falar com o mundo!!!
Existem muitas atividades que vocês pode me colocar, vão me ajudar bastante, psicólogo, fonoaudióloga, natação, terapeuta ocupacional, escola e muitos outros, mas se perceberem que eu não quero ir, ou que estou chorando na hora de ir ou chegar lá, tem alguma coisa errada, procura ver o que é, tá?
Vou te contar um segredo, bem baixinho, tenha paciência comigo, nada de ficarem ansiosos se eu estou melhorando ou não, sou como uma plantinha não nasço e cresço de uma hora para outra, tem que regar, pegar sol, não é assim? Eu também, preciso de tempo!
Vou te falar outra coisa, sabe quando vocês falam muita coisa junta? Eu não entendo nada... fale uma coisa de cada vez, senão minha cabeça vai ficar zureta e eu posso fazer aqueles movimentos que todo mundo estranha.
Ao invés de falarem assim: Não faça isso, não faça aquilo! Falem assim: Faça esta outra coisa, entendeu? Eu não gosto de ouvir não. É não pra lá, não pra cá, me cansa, eu prefiro que digam o que eu posso fazer. É só uma dica, tá? Não estou brigando, não.
Eu preciso conhecer cada parte do meu corpo, por isso, quando tocar fala para mim, assim vou me conhecendo melhor, sabe o que descobri? Que eu tenho língua, engraçado, ela fica guardada e ninguém gosta que eu mostre.
Mas tem coisas que são muito chatas e me incomodam bastante! Eu não sei porque tem etiqueta em roupa, elas me beliscam... e barulho? Às vezes para vocês está baixinho, para mim está muito alto, não gosto! Até tampo meus ouvidos.
Quando for passear, me leva? Eu preciso conhecer o mundo, as pessoas, mesmo que elas me olhem estranho, mas fazer o que, né?
Todo mundo tem alguma coisa estranha, só que já se acostumaram e precisam também se acostumar comigo e eu com elas.
E o último recado, eu quero ver a mamãe sempre linda, então mamãe, não deixe de fazer suas unhas, seus cabelos, e aproveitem para sair também, vocês precisam porque senão , vocês não vão ter pique para cuidar de mim quando eu precisar. Eu posso ficar com outras pessoas da família, afinal, existem avós, tias, tios e esta cambada toda, né?
Bem, é isso aí, recado dado...assinado seu/sua filho/a. Beijinhos!!
Marinez Rangel
Psicóloga
tel. 21-98845-2838
email: inezrangelpsitaa@gmail.com
Terapia Cognitiva Comportamental
Terapia Assistida por Animais
Recado de um filho com autismo para seus pais
Todos que trabalham com TAA - Terapia Assistida por Animais - geralmente publicam artigos, textos, reportagens, entrevistas e situações sobre o funcionamento deste tipo de terapia ou atividade sejam elas em casas de repouso, orfanatos, hospitais, onde os cães vão até estas pessoas e as fazem mais felizes com sua presença.
Dentre todos os trabalhos que vejo sendo feitos com cães e pessoas com qualquer tipo de necessidade especial, a questão dos autistas chamou bastante minha atenção desde o começo, em parte, porque trata-se de um transtorno que está aumentando bastante sua incidência nos últimos anos. De acordo com informações do psiquiatra infantil, Estevão Vadasz, estima-se que a incidência da doença seja de 1 em cada 100 pessoas (1%) da população mundial (70.000.000 de indivíduos), 2.000.000 no Brasil. E ontem mesmo conversando com uma amiga, também me informou isso, o quanto tem aparecido na saúde pública este tipo de transtorno, o que chamamos hoje de Transtorno do Espectro do Autismo.
O que me fez buscar estudos sobre a TAA e o TEA? A formação do vínculo que é feita entre o cliente e o cão. A resposta é muita rápida , não só em questão de vínculo, mas também como resposta ao tratamento. Vi que é por aí o caminho...
Cães terapeutas estão sendo usados para ajudar crianças autistas também e mostraram servir como catalizadores de interações sociais. Pesquisas já mostraram que cães de assistência podem ajudar crianças autistas a aprender sobre os seres vivos, os sentimentos e as necessidades. Além disso, pesquisas mostraram que pode haver uma melhora na rotina diária da criança e de suas famílias com a presença de um cão assistente.
A nível fisiológico, o cortisol, conhecido como “hormônio do estresse” que pode ser medido através de amostras de saliva, pode servir como uma boa medida para avaliar os potenciais efeitos positivos dos cães de serviços em crianças autistas.
Cinquenta e sete crianças diagnosticadas com transtorno do espectro autista foram recrutadas pela MIRA Foundation, do Canadá, e de várias outras organizações de autismo do país. Não participaram do estudo crianças que estavam tomando esteróides por via oral. Outros tratamentos ou intervenções terapêuticas prescritos antes do estudo foram mantidos durante o mesmo.
Inicialmente, os pais foram instruídos sobre como coletar amostras de saliva. Então, eles participaram de uma sessão de três dias de treinamento sobre como interagir com o cão e como introduzi-lo na vida da criança. Todos os cães receberam treinamento e avaliação comportamental. O treinamento dura três meses e tem como principal objetivo ensinar os cães a manter a calma visando garantir a segurança caso o ambiente se torne caótico. Os cães selecionados foram treinados para serem capazes de se adaptar a vários ambientes, a serem bem humorados, usar escadas confortavelmente, controlar facilmente suas inseguranças e se manter calmos e respeitosos, em uma tentativa de aumentar a autonomia da criança e facilitar a tarefa dos pais. Os pais foram requisitados a aprender os comandos básicos de obediência dos cães e a segurar a coleira dos animais. Cada cão também foi cuidadosamente combinado com o temperamento da criança e precisou ser colocado antes na família. Quando o estudo terminou, os cães foram oferecidos às famílias.
Com isso, vejo o quanto é importante treinarmos cães para serem cães de serviço, assim como os cães guias que tanto ajudam aos deficientes visuais.
O artigo foi inteiramente baseado no trabalho: R. Viau, G. Arsenault-Lapierre, S. Fecteau, N. Champagne, C. Walker, S. Lupien (2010) Effect of service dogs on salivary cortisol secretion in autistic children. Psychoneuroendocrinology, vol 35 (8), pp. 1187-1193, Semtember 2010.